O QUE É GENGIVITE?
A gengivite é uma condição causada pelo acúmulo de biofilme dental. Clinicamente, é caracterizada por vermelhidão, inchaço (edema) e sangramento gengival, dependendo da gravidade da inflamação.1 Ao contrário da periodontite, a gengivite não resulta em perda de inserção periodontal ou perda óssea. Geralmente, não causa sangramento espontâneo e apresenta alterações clínicas discretas, sendo, na maioria das vezes, indolor. Por isso, muitos pacientes não percebem sua presença.1
Na América Latina, estima-se que 35% dos jovens e até 99% dos adultos possam ser afetados pela gengivite.2,3 Um estudo recente indicou que 92% das crianças de 12 anos em Quito (Equador) apresentavam sangramento gengival.4
QUAIS SÃO AS CONSEQUÊNCIAS DA GENGIVITE?
Diferente da periodontite, a gengivite é completamente reversível com a remoção do biofilme dental. Apesar de sua reversibilidade, a gengivite é clinicamente relevante, isso porque pode ser precursora da periodontite, uma doença mais grave que leva à perda de inserção do tecido conjuntivo e à perda óssea.5,6 Além disso, a gengivite impacta negativamente a qualidade de vida relacionada à saúde bucal.7,8 Isso acontece porque os sinais clínicos da gengivite, como inchaço, vermelhidão e sangramento gengival, podem afetar a autoestima, a autoconfiança e as interações sociais dos pacientes.
COMO PREVENIR E TRATAR A GENGIVITE?
Considerando a relação causal entre biofilme dentário e gengivite, tanto a prevenção quanto o tratamento baseiam-se no seu controle eficaz.9
Esse controle deve ser uma responsabilidade compartilhada entre os profissionais da odontologia e os pacientes. No consultório, o profissional realiza a remoção do biofilme supragengival e orienta sobre a higiene bucal. Em casa, os pacientes devem manter a rotina de escovação e uso de dispositivos de higiene interproximal, idealmente duas vezes ao dia.9,10 Evidências indicam que a escovação e o uso de dispositivos interproximais são eficazes na remoção do biofilme e na redução da inflamação gengival.11 Enxaguatórios bucais também podem ser indicados para o controle da gengivite, conforme será explanado nas seções seguintes.
LIMITAÇÕES DO CONTROLE MECÂNICO DO BIOFILME
A eficácia da higiene bucal domiciliar depende tanto da habilidade e da destreza do paciente quanto de sua motivação para manter a remoção do biofilme a longo prazo.12 A maioria das pessoas não tem destreza ou motivação suficientes, o que faz com que a remoção caseira do biofilme seja inadequada,13 principalmente a remoção do biofilme interdental.14
Profissionais de saúde bucal devem motivar seus pacientes a mudarem seus comportamentos de saúde bucal, incluindo a higiene bucal eficaz e regular. Entretanto, manter uma boa higiene bucal ao longo do tempo é um desafio. Pacientes têm dificuldade em manter uma higiene bucal adequada a longo prazo. Intervenções comportamentais melhoram temporariamente a higiene bucal, mas uma revisão sistemática não encontrou benefícios clínicos significativos a curto ou longo prazo.15
CONTROLE QUÍMICO DO BIOFILME
As limitações do controle mecânico do biofilme levaram pesquisadores a investigar o efeito de enxaguatórios com antissépticos como adjuntos da higiene bucal mecânica. Há evidência da eficácia de enxaguatórios bucais como adjuntos do controle do biofilme bucal e da gengivite, o que justifica recomendação da inclusão de enxaguatórios bucais para adultos com gengivite, como parte de sua rotina diária.11,16
Os produtos disponíveis no mercado contêm clorexidina (CHX), uma combinação de óleos essenciais (timol, mentol, eucaliptol e salicilato de metila) (OE) ou cloreto de cetilpiridínio (CPC), reconhecidos por seus efeitos antiplaca e antigengivite. Devido a seus efeitos adversos, a CHX (0,12 a 0,2%) é recomendada para uso a curto prazo, enquanto OE e CPC (0,05 a 0,075%) podem ser usados diariamente por maior período no controle do biofilme dentário e de gengivite.10,16
OE e CPC apresentam perfil de segurança bem estabelecido. Alguns estudos mostram superioridade de OE sobre CPC em relação ao efeito anti-inflamatório.16
EFICÁCIA DE ENXAGUATÓRIOS COM ÓLEOS ESSENCIAIS NA REVERSÃO DE GENGIVITE
Conforme mencionado anteriormente, há evidências de que enxaguatórios bucais com OEs reduzem significativamente os níveis de biofilme dentário e gengivite.16 Um estudo recente verificou o efeito de um enxaguatório sem álcool, contendo OE e zinco (Zn), na reversão de sítios com gengivite.17 O zinco presente no enxaguatório tem a função de reduzir a formação de cálculo supragengival.18
Foram incluídas 192 pessoas com gengivite de leve a moderada, definida como índice gengival modificado (IGM) de 1 a 3 (Tabela 1).17
Todos receberam uma profilaxia inicial e, em seguida, receberam enxaguatórios ou um placebo inerte. Durante o período de acompanhamento do estudo, os participantes escovavam os dentes por 1 minuto e faziam bochechos por 30 segundos, duas vezes ao dia. Eles também continuaram a usar fio dental, se isso já fizesse parte de sua rotina de higiene bucal. Foram avaliados os níveis de biofilme (IP), inflamação gengival (IGM) e sangramento gengival (EBI) por meio de índices baseados em análise visual e sondagem periodontal (Tabela 1).17

Além disso, a reversão de sítios com gengivite para sítios sadios foi quatro vezes maior no grupo OE/Zn do que no grupo placebo. Os resultados mostram eficácia e segurança do enxaguatório sem álcool contendo OE e zinco.17
Tabela 1.
ÍNDICE | NOMENCLATURA |
---|---|
IP | Índice de placa de Quigley & Hein (modificado por Turesky) |
IGM | Índice gengival modificado |
EBI | Índice de sangramento expandido |
Referências:
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